- buraquinha
- Posts
- 01 // Fabiana Won
01 // Fabiana Won
Fabiana Won ou wonori (@wonori.art), é artista multidisciplinar, bacharel em Direito pela USP.
Suas principais áreas investigativas são a fotografia, a ilustração, a cerâmica, o bordado e a encadernação, esta última por conta da diversidade de aplicações possíveis.
Participou de uma exposição coletiva de cerâmica em 2023, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, junto da Associação de Ceramistas Coreanos.
Já trabalhou como designer de estampas e de embalagens e expôs seu trabalho em feiras desde 2021, na CCXP, e em 2023, no Flash T-Shirt pela El Cabriton, na feira que ocorreu no Cine Petra Belas Artes, em ocasião da Mostra de Cinema Coreano, e no Festival El Cabriton.
O que significa ser a pessoa mais velha da nova geração em uma família imigrante? No que acarreta ser essa figura?
Bom, ser a mais velha significa que você será a primeira a experimentar um “novo” mundo, e, portanto, enfrentará muitas situações e contextos que não precisava, mas que enfrentou, e, de certo modo, abriu caminho para que os que vieram depois pudessem desfrutar ou sofrer menos do que você e dos que vieram antes de você.
Significa que você é responsável pelos outros, pela sua família, pelos seus irmãos e parentes mais novos.
Significa que esperam que você seja genial, excepcional, capaz de tudo e mais um pouco, que você cuide, acolha, respeite, ouça e aceite toda sorte de expectativa e faça o papel de mãe para seus pais e para os mais novos.
Ainda, desbravando novos continentes, nos quais falta uma comunidade de fato, pois esta foi fraturada pela geografia e pela religião, significa que você será a ponte entre a terra natal e a terra nova, entre as pessoas daqui e as pessoas de lá, traduzindo e se traduzindo o tempo inteiro para a melhor compreensão de todos, mas dificilmente conseguindo se fazer entender.
What does it mean to be the oldest from a new generation within a family of immigrants? What does it lead to?
Well, being the oldest means that you’re gonna be the first to dip into a “new” world and, thus, will overcome a lot of unnecessary situations and contexts, and, in a certain way, opened up a path so others that came after could experience or suffer less comparing to you and others that came before.
It means you’re responsible for others, for your family, your siblings and younger relatives.
It means you’re expected to be a genius, exceptional, capable of everything and beyond, to take care, support, respect, listen to and accept all kinds of expectations and be the mother of your parents and younger ones.
Besides, in moving through continents, without real communities, broken by geography and religion, it means that you’ll be the bridge between the new land and motherland, between people from there and people in here, all the time translating it and translating yourself to a better comprehension from all sides, but barely making yourself understandable.
Que complexidades acabam surgindo nisso?
Observo que ser a filha mais velha significa carregar todos os fardos, todas as demandas, todas as faltas, todos os "e se...", todos os medos e todos os traumas da família. Talvez esse “todos” possa ser um exagero, talvez não. Porque realmente é muita expectativa nas costas. A expectativa de que irei cuidar de todos os membros da família nuclear, a expectativa de que obedecerei às vontades das matriarcas da família, sacrificando minha individualidade e autonomia em nome dos outros.
Esse sacrifício que menciono se manifesta através do impulso de realizar tudo por todos, de cuidar de tudo, de fazer tudo, mesmo que não se tenha nenhuma vontade ou forças para tanto. E mesmo fazendo tantas coisas, me sinto imóvel, inócua, passiva, inerte. Fazendo tudo pelos outros, e não fazendo nada por mim.
Somado a isso, o medo de errar e de falhar. Medo de sofrer. Medo da repreensão e punição.
Repreensão essa que é uma constante, quando se é a filha mais velha, porque nada do que você faz será suficiente para agradar ou satisfazer as expectativas cada vez maiores das pessoas que vieram antes de você. Sempre faltará alguma coisa, ainda mais nesse contexto de conflitos de valores geracionais. Mas a verdade é que, por mais que sejamos todos nós os sonhos de nossos antepassados, não precisamos seguir as expectativas que nos são impostas.
What complexities emerges from all of this?
I notice being the oldest daughter means carrying all the burden, demands, lacks, all of “what if…”s, all the fears and family trauma. Maybe “all” is an exaggeration, maybe not. Because the expectation is really a load on one’s shoulders. The expectation that I’ll take care of all members of my nuclear family, that I’ll obey the wishes of the family's matriarchy, sacrificing my individuality and autonomy for them.
This sacrifice I mention manifests itself through the impulse of doing everything for everyone, taking care of everything, doing everything without willingness nor strength to do so. Although doing so much, I feel motionless, innocuous, indifferent, inert. Doing everything for everybody but me.
Adding to that, the fear of making mistakes and failing. Fear of suffering. Fear of reproach and punishment. Reproach, which is a constant when you’re the oldest daughter, because nothing you do is enough to please or satisfy ever growing expectations from people that came before you. There will always be something lacking, more so in this context of generational values’s conflicts. Truth is, even though we’re all our ancestor’s dreams, we actually don’t need to meet the expectations that are imposed on us.
Por quê nem tudo é tormenta e nem tudo é amargor?
Foi através disso que estou aprendendo a estabelecer limites, e que estou aprendendo a identificar quem sou, o que quero, para onde quero ir, para onde não quero voltar, e o que eu quero fazer com o pouco tempo que tenho. Aprendendo a dizer não, aprendendo a me proteger das emoções alheias, e aprendendo a confiar em minhas decisões.
Aprendendo a errar, aprendendo a me adaptar às circunstâncias, aprendendo a quebrar, romper e cortar aquilo que não me faz bem. Aprendendo a cair, aprendendo a tentar e a experimentar, aprendendo a brincar e aprendendo a sonhar.
Por um presente e um futuro mais abundantes.
Why not everything is a torment, nor bitterness?
From all this, I’ve been learning how to establish boundaries and identify who I am, what I want, where I want to go, where I don’t want to go back to, what I want to do with the little time I have. I’ve been learning how to say no, how to shelter myself from other people’s emotions, learning how to trust my own decisions. Learning to make mistakes, to adapt myself to circumstances, learning how to break, rip and cut what doesn’t make me feel good. I’ve been learning how to fall, how to try and experiment, how to play and to dream. For a more abundant present and future.
deu vontade de participar? chegue mais com sua autoentrevista de 3 perguntas + minibio em [email protected].